terça-feira, 26 de outubro de 2010

Veto



Artur Perrusi

No post anterior, fiz a crítica a uma entrevista de uma bióloga. Acusei-a de reducionismo e de naturalização. Foi uma crítica dura, embora não se compare com o arremesso de uma bolinha de papel. Agora, faço o contrário e critico a ojeriza que têm muitos sociólogos em relação à biologia, em particular a biologia evolutiva. Muitas vezes, há um veto, inscrito no âmago da ciência social, em discutir, por exemplo, as relações entre biologia e sociologia. Não há diálogo, e sim separação e distância. Defendo, como verão, durante a leitura, uma posição diferente.

No fundo, o biologismo tem sua contrapartida no sociologismo, isto é, a subsunção da biologia e da psicologia à sociologia. A psicologia, coitada, praticamente desaparece, virando no máximo uma "psicologia social". Cá entre nós, se a biologia é imperialista, a sociologia gosta de pirataria. Por isso, defendo o diálogo multidisciplinar; talvez, é a minha esperança, ocorra um controle das extrapolações de ambos os lados. Nas minhas aulas, por exemplo, faço como Norbert Elias e apareço com um crânio humano, mostrando aos futuros cientistas sociais que, afinal e por incrível que pareça, temos um corpo, um esqueleto e somos, sem carne, assustadores (brincadeirinha!).

E, se desejo o diálogo, defendo que o mesmo implique dois movimentos, aparentemente, contraditórios: 1) a delimitação de fronteiras disciplinares (cada macaco no seu galho) e 2) a demonstração de que as fronteiras são porosas e, algumas vezes, não existem (todo macaco gosta de banana). Sim, não nego o paradoxo, mas é assim que funcionam os primatas.

Enfim, na discussão abaixo, remeto os leitores a partes de um antigo artigo, em que abordo a questão. Quem quiser ler o artigo inteiro, cujo objeto é a concepção da técnica em Leroi-Gourhan, é só clicar aqui.


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