quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Do diferente e do mesmo: manifestações de junho e sociologia da juventude




Tâmara de Oliveira (UFS/DCS e PIBID/UFS-Sociologia)1

Introdução

Há alguns pontos quase pacíficos no campo da sociologia da juventude – apesar da diversidade teórico-metodológica que, como em qualquer campo das ciências sociais, marca a trajetória do olhar sociológico sobre os jovens. Entre esses pontos, tentarei articular aqui dois – um que se refere à construção social da juventude na modernidade e contemporaneidade; outro que se refere ao próprio olhar da disciplina sociológica sobre o mesmo fenômeno.

Não é apenas o sentido biologizante da palavra que provoca representações homogêneas da juventude, desconsiderando, por exemplo, que entre um habitante do Garcia com 18 anos e um habitante da Terra Dura com a mesma idade pode haver mais diferenças do que entre duas pessoas de faixas etárias distantes mas possuindo a mesma profissão, trabalhando na mesma instituição, frequentando os mesmos lugares de moradia e de lazer, comprando bens materiais e simbólicos com preços e marcas semelhantes, etc. Para além da articulação entre juventude no singular e certas condições biológicas semelhantes, a própria dimensão sócio-cultural do que se concebe como juventude também carrega potências homogeneizantes.
Minha fala aqui terá o caráter estrito de exercício reflexivo, porque só recentemente comecei a estudar a sociologia da juventude. Seguirei sobretudo um texto de uma autora brasileira reconhecida no campo, Angelina Peralva (1997). Depois de segui-la em seu état des lieux, estabelecerei um diálogo crítico com sua leitura dos jovens na contemporaneidade, a partir da seguinte pergunta: as manifestações de junho de 2013 no Brasil não seriam uma expressão empírica de que de que a velocidade da dinâmica societária é uma variável em aberto da potencialidade de renovação societária pela tensão entre enteléquias geracionais?
1-Modernidade e juventude: o insustentável equilíbrio entre o futuro como mandato de renovação e o passado como controle do presente
A construção social da juventude ao longo da modernidade, entre o século XIX até os anos 1950 (quando certas vivências e experiências juvenis começam a abalar o sentido da juventude até então predominante), é exemplar quanto a uma compreensão homogênea da juventude, ou seja, a uma representação social (Moscovici, 2004) que percebe, pensa e age sobre indivíduos de uma faixa etária como se todos coubessem numa mesma definição: a juventude como um mesmo “ente”, uma singularidade homogênea à qual todos os jovens seriam reduzidos. Encarnar a transição com vistas a um futuro melhor é um conteúdo nuclear (Abric, 2001) das representações modernas da juventude – que se pronuncia no singular, como “ente” homogêneo, como traço que se inscreve nos corpos e identidades sociais de quaisquer indivíduos de uma certa e mesma faixa etária.
Destinado à mudança sim, mas não sujeito ou agente da mudança: nem de si mesmo (corpo/mente desengonçado, desequilibrado e instável a ser moldado por forças biológicas e institucionais), muito menos da mudança social (já que enquanto corpo/mente instável e sem experiência, a juventude também é representada como fonte de risco – para si mesma e para a sociedade como um todo). Neste sentido, a representação da juventude possui outro conteúdo nuclear, oposto ao primeiro: o de fonte de risco, marcando-a com uma tensão constitutiva, entre promessa de futuro melhor e ameaça de desordem social. Considerando uma argumentação de Peralva (1997), segundo a qual a modernidade é atravessada por uma tensão entre lógica da modernização (orientação para o futuro) e fundamento normativo (orientação pelo passado), eu diria que tal tensão faz convergir juventude e modernidade: os arranjos societais modernos também são atravessados por uma tensão constitutiva entre um mandato de mudança incessante e a ameaça de desordem pela mudança, à medida em que se trata por um lado de uma cultura orientada para a renovação constante, mas, por outro lado e como qualquer arranjo sociocultural, as sociedades modernas não sobrevivem sem mecanismos e dinâmicas de reprodução da ordem – de valores, de poderes, de instituições. Como encarnação de promessa de mudança em corpo/mente instável, logo ameaçante à reprodução da ordem, a juventude torna-se então objeto de controle social.
Bom jovem, nas sociedades modernas até os anos 1950, seria o jovem “bem-criado”, ou seja, aquele cuja socialização (processos de inserção na ordem social protagonizados por agentes e instituições sociais como a família e a escola) o preparou adequadamente para a saída de um estado representado como provisório, perigoso e irresponsável e a entrada num estado estável, seguro e responsável – quando então poderia assumir as rédeas do insustentável equilíbrio entre reprodução e mudança social que marca a modernidade.
2- Socialização e desvio como categorias opostas da mesma ordem sociológica sobre a juventude
Tal quadro simbólico da juventude vai se projetar nos estudos das ciências sociais sobre jovens pois, até o final dos anos 1950 e início dos anos 1960, sob a hegemonia das categorias ordem social e socialização, o olhar da sociologia vai privilegiar os temas do desvio, da marginalidade e da vulnerabilidade da juventude a processos falhos de socialização. Angelina Peralva (1997) descreve com muita pertinência as características comuns do olhar das ciências sociais em geral e da sociologia em particular sobre a juventude até os anos 1950/1960:
Vale dizer, de passagem, que os temas da ordem e da normatividade estão longe de ser um problema exclusivo do funcionalismo. E, embora o interacionismo tenha renovado profundamente as formas de perceber o desvio, sobretudo deslocando uma problemática até então definida em termos motivacionais para uma outra, definida em termos de interação, ele não rompe com a estrutura básica do raciocínio funcionalista, definida pela oposição entre norma e desvio(...).Nessa perspectiva, se o jovem não constitui uma categoria exclusiva dos desviantes, constitui com certeza uma categoria importante, pode-se dizer mesmo central, nas representações sociais do desvio.
Assim, o temor suscitado pelo jovem, o sentimento de insegurança a ele freqüentemente associado no imaginário adulto, constituem a outra face dessa moeda. Já não se trata aí do jovem cujo desvio é necessário prevenir ou mesmo punir, mas daquele que ameaça o adulto indefeso, encarnando tudo aquilo que, em sua vida, este já não consegue controlar. (Peralva, 1997, p. 19)

3- A geração 1960/1970 como ruptura social e sociológica
Há uma anedota sobre o general De Gaulle que é exemplar para a compreensão das mudanças sociais e sociológicas sobre a juventude, a partir da segunda metado do século XX. Conta-se que, atordoado pelos acontecimentos de maio de 1968 na França, quando um processo iniciado ainda nos anos 1950 explodiu nas ruas de Paris e outras cidades mundo afora, De Gaulle fôra assim informado sobre a causa dos protestos juvenis: “tudo começou porque um universitário quis entrar no quarto de uma universitária”. E o velho herói de guerra, naquele momento presidindo mais uma vez La République, teria respondido: “que um rapaz queira entrar no quarto de uma moça é coisa que qualquer um pode compreender; mas que se ateie fogo no país por causa disso?!”
Continuo seguindo a hipótese de que um dos pontos quase pacíficos na sociologia da juventude contemporânea é a de interpretar que essa concepção da juventude entre promessa de futuro melhor/ameaça de desordem – tornando-a objeto de controle pela ordem social e de socialização ou desvio para a sociologia – começa e ser desconstruída pelos próprios jovens a partir dos anos 1950. Uma conexão geracional, como escreveu muito antes Karl Mannheim, parecia dar seus primeiros passos, mas o quadro social e sociológico em torno da juventude parecia permanecer o mesmo. Foi Maio de 68 que se apresentou ao mundo como o que estudiosos contemporâneos podem chamar de acontecimento (conceito elaborado por Deleuse e que tem sido atualmente articulado por estudiosos num sentido mais sociológico e/ou para a abordagem dos movimentos sociais):
Adotando um olhar mais sociológico, Louis Quéré (2005) também se preocupa com o conceito de acontecimento, buscando destituir a idéia de um sujeito onipotente, que significa o mundo de acordo com suas visões e valores. Quéré afirma que o acontecimento tem um poder hermenêutico capaz de revelar, simultaneamente, passados e futuros. Baseando-se nas idéias de Hannah Arendt, ele lembra que o acontecimento tem um caráter inaugural: ao emergir, ele tem "poder de abertura e fecho, de iniciação e de esclarecimento, de revelação e de interpelação" (2005, p. 60). O autor defende que o acontecimento introduz uma descontinuidade, excedendo as possibilidades do previamente calculado. No entanto, tão logo ele surge, os sujeitos buscam restabelecer a continuidade do mundo, procurando, no passado, anúncios de sua ocorrência. Esse passado não existia, todavia, antes do acontecimento: ele é revelado e esclarecido pelo próprio acontecimento.(...) (Mendonça, 2007, pp. 3-4)
Pois bem, inspirando-me no que Mendonça coloca sobre o conceito de acontecimento, eu diria que Maio de 68 instituiu Charles de Gaulle no passado (foram descontinuidades provocadas por ele que fizeram o velho general sair voluntariamente do poder. Dois anos depois, em novembro de 1970, ele morreria recolhido em seu vilarejo natal). Ao mesmo tempo, a juventude aparecia como sujeito de si mesma, no plano político-econômico, cultural, moral, artístico, enfim, em diversas dimensões do viver em sociedade, como se quisesse virar o mundo de ponta-cabeça e como se os jovens concretos que protestavam nas ruas, enfrentavam polícias, instituiam-se como grupos (hoje em dia diríamos “tribos”) políticos ou comunitários (hippies), inauguravam os posteriormente chamados novos movimentos sociais (mulheres, homossexuais, negros, etc.), construíam seus valores estéticos, políticos, morais no espaço público, fosse de fato um ente homogêneo incorporado em todos os jovens reais e estivesse realizando a ameaça à ordem social com a qual a sociedade moderna lhe representava e controlara.
Evidentemente, essa juventude-ente, esse mesmo simbólico encarnado em milhões de corpos diferentes, continuava representação social redutora da diversidade das experiências dos jovens da época. Não só daqueles que participaram concretamente de diferentes tipos de protesto, mobilização, grupo e visão inovadora de mundo (às vezes estranhos ou conflitantes entre si, como por exemplo jovens militantes de esquerda pregando luta armada e jovens vivendo em comunidades, hippies e outros grupos adeptos de uma cultura “paz e amor”), mas também redutora das experiências e vivências de jovens que nunca participaram de nenhum protesto, movimento, grupo ou visão inovadora de mundo e que viviam todavia no mesmo contexto temporal – como a maioria dos jovens operários ou camponeses que continuavam orientando seus passos para as usinas e roças, mais reproduzindo do que propondo uma ordem social diferente da de seus pais.
4- “O problema das gerações” e as manifestações de junho: um olhar do passado como fonte de renovação dialógica
Se inspirando no funcionalismo, no interacionismo ou no chamado construtivismo estrutural de Pierre Bourdieu, já afirmamos aqui com A. Peralva (1997) que a sociologia da juventude movera-se sob a polarização socialização/desvio juvenis. A chamada corrente “classista” provocou mudanças sociológicas importantes no sentido de desnaturalizar a representação homogeneizante do conceito de juventude e impor a consideração analítica da diversidade de experiências sociais de ser jovem, bem como dos diferentes modos e intensidades de vigiar/controlar o desvio juvenil segundo a classe social dos jovens concretos. Mas essa diversidade era abordada a partir de um quadro conceitual estrito, o da estrutura e dinâmica construtiva das classes sociais, enquanto que as mudanças a partir dos anos 1950 e principalmente o acontecimento de Maio de 68 revelavam dimensões múltiplas da diversidade dos jovens (de valores, de comportamento, de engajamento ou não, políticas, morais, artístico-culturais, etc.).
Por outro lado, Maio de 68 manifestava que representações sociais não significam ilusão ou falsa consciência, mas componente construtivo das dinâmicas societárias. Sendo assim, como o acontecimento de Maio de 68 inaugurara uma presença concreta de práticas, valores, comportamentos e mobilizações protagonizados por indivíduos e grupos cuja faixa etária correspondia à classificação na categoria “juventude”, esta deixa de ser encarada apenas como uma das categorias centrais do desvio social e/ou mero caso particular da reprodução das classes e adquire status de tema importante da sociologia do conhecimento. Mas o texto considerado fundador dessa perspectiva fôra escrito muito antes, em 1928, pelo sociólogo húngaro Karl Mannheim. Nos anos 1960/1970 começou a ser resgatado e a chamada escola geracionista desenvolveu-se a partir desse texto.
Embora construindo-se como crítica a uma concepção cronológica e quantitativa das idades (para ele positivista) e sob a influência da sociologia compreensiva de Dilthey e mesmo de Heidgger, sua teoria das gerações não deve ser identificada com abordagens culturalistas no sentido forte, posto que, segundo Weller (2005), Mannheim considere o ritmo biológico na existência humana e social, prevenindo-se contra o que chama de “espiritualismo extremo” de certas abordagens não positivistas das relações geracionais. Para Mannheim não se pode tratar sociologicamente o problema das gerações sem se levar em conta a influência de condições biológicas na construção social de grupos etários. Assim, embora não devamos pensar tal influência à moda positivista (onde uma classificação quantitativa e mecânica reduz a constituição de grupos etários a uma mística delimitação precisa e cronológica de idades do ciclo biológico de vida), devemos considerar a significação antropológica (no sentido filosófico) de que os humanos crescem juntos daqueles que nasceram num mesmo período cronológico, logo, têm o mesmo ritmo biológico e experimentam influências sociais similares e que isso os torna potencialmente próximos entre si e distantes daqueles que cresceram em período anterior - mas com os quais partilham um mesmo período cronológico.
O mundo social se apresenta então como uma simultaneidade do não-simultâneo, posto que diferentes grupos geracionais partilham um mesmo tempo cronológico, mas podem disputar a formação ou a transformação do “espírito do tempo” de acordo com os conteúdos políticos, sociais e culturais de seus diferentes tempos interiores. É por isso que a dinâmica societária pode ser centralmente afetada por diferenças geracionais. Para Mannheim (apud Weller, 2005), um problema das gerações, ou seja, a realidade empírica de um conflito geracional contendo potências do novo na sociedade, tem relação direta com seu conceito de enteléquia geracional (uma enteléquia sendo a articulação entre o tempo interior de uma geração e “metas íntimas” que ela pode constituir a respeito dos conteúdos socioculturais e políticos do “espírito do tempo”). Uma enteléquia geracional pode se apresentar empiricamente como potência do novo se e quando um grupo etário salta de sua posição geracional (ou seja, partilha de mesmas condições sociais, culturais e políticas permitindo que a geração acumule um estoque de experiências comuns) para uma conexão geracional (quando não apenas se partilha experiências comuns, mas se estabelece participação em uma prática coletiva orientada pelos conteúdos da enteléquia geracional). Em uma palavra, uma conexão geracional tem caráter político, é ativa sociopolítica e culturalmente, enquanto uma posição geracional constitui apenas condições socioculturais similares possibilitando o acúmulo de experiências comuns.
Mas a teoria de Mannheim nos previne quanto a uma concepção homogeneizante do conceito de conexão geracional (ou seja, pensada enquanto vínculo simbólico e prático unificado de uma geração, nos moldes da teoria marxista das classes, na qual uma classe em si e para si aparece como sujeito potencial de uma transformação societária com conteúdos sociais, culturais e políticos unitários). Isso porque uma mesma conexão geracional pode constituir grupos ou unidades geracionais diversas e mesmo conflitantes. Além disso, articulando seus conceitos principais ao fluxo das dinâmicas societárias, o sociólogo húngaro acrescenta variáveis temporais para compreender os diferentes modos e consequências históricas de conexões geracionais concretas: quando o ritmo da dinâmica societária é muito lento (como em sociedades tradicionais), as enteléquias geracionais não são suficientemente distintas para que surja uma conexão geracional capaz de transformar o espírito do tempo; mas quando o ritmo da dinâmica societária é demasiadamente acelerado, isso pode levar a uma superposição de conteúdos de enteléquias intergeracionais, impedindo que uma geração nova constitua “metas íntimas” claras e suficientemente distintas e estabeleça conexão e unidades geracionais politicamente ativas – mobilizadas praticamente e contestatórias da ordem social. Diríamos que, segundo a leitura de Peralva 1997), para Karl Mannheim o ritmo da dinâmica societária precisa estar entre excesso de lentidão e excesso de velocidade para que uma conexão geracional seja portadora do novo, como teria sido o caso da geração 1960/1970.
Conclusões
Utilizando essas variáveis temporais de Mannheim e articulando-as ao trabalho de Margaret Mead sobre juventude e engajamento político para compreender as gerações posteriores a dos anos 1960/1970, Angelina Peralva (1997) desenvolve a seguinte hipótese: o excesso de aceleração da dinâmica societária depois dos anos 1980 teria dissolvido a tensão potencial entre gerações pela “dissolução da oposição entre o passado e o futuro. O futuro se torna presente e absorve o passado” (Peralva, 1997, p. 21), provocando uma juvenização do mundo: ser jovem transforma-se em modelo cultural para todas as faixas etárias. Esse modelo, que também é um potente mecanismo de constituição de mercados de consumo em torno de uma promessa de “eterna juventude”, não significa que se valorize os jovens em sua concretude e diversidade, mas valores e estilos de vida simbolicamente associados ao que se representa como juventude, tais como beleza física, saúde, capacidade de adaptação constante.
Estamos de fato num mundo societal hiper acelerado, mas as manifestações de junho de 2013 no Brasil parecem por em questão a validade da hipótese de Peralva a respeito das variáveis temporais estabelecidas por Karl Mannheim. Não apenas porque elas tiveram uma maioria nitidamente jovem, mas também porque evidenciaram a existência de uma heterogeneidade de unidades geracionais concretas ou virtuais. Além disso, a observação de traços comuns entre nossas manifestações de junho e outras mobilizações com maioria juvenil pelo mundo – Primavera Árabe, Occupy Wall-Street, Indignados, etc. – pode ser um indicador empírico de que a própria hiper-aceleração da dinâmica societária, em escala globalizada ou globalizável, é atualmente um componente potencial dos conteúdos do espírito do tempo em disputa inter e intra-geracional. Com efeito, se pensarmos que por trás do Movimento Passe-Livre há uma colocação em questão dos parâmetros institucionais e simbólicos da distribuição social do solo e da mobilidade urbanas sob a lógica de um mercado capitalista que tem fundas afinidades com certas condições de vida que atingem negativamente a faixa etária jovem, podemos perceber que estamos num periódo cronológico em que a posição geracional dessa faixa etária tem dado passos importantes na direção de uma conexão geracional que ainda vai ocupar o mundo social e sociológico por algum tempo.
Penso aqui no desemprego e/ou na precariedade no mundo do trabalho que atinge particularmente os jovens; na vulnerabilidade à violência na qual, em países como o Brasil, os jovens são protagonistas...Em suma, num espírito do tempo articulado a um novo capitalismo (Sennet, 2006) hiper-acelerado, nas democracias invadidas por sentidos plutocráticos de poder, nas desigualdades que se complexificam em meio a uma cultura problemática do consumo – fazendo das aspirações crescentes de jovens cada vez mais escolarizados, uma fonte constante de frustração...Sob o olhar de Mannheim, esses fenômenos implicariam na partilha de condições sociais, culturais e políticas, ou seja em uma posição geracional problemática, logo, com potência para gerar uma conexão geracional portadora do novo.
O que resultará de tudo isso, não é possível saber ainda. Mas, desde que não confundamos o conceito de conexão geracional com uma representação homogeneizante dos jovens, não busquemos no problema das gerações um substituto da teleológica concepção de classe revolucionária marxista e que não pretendamos pensar a geração de 1960/1970 como modelo transistórico de potencialidades tranformadoras geracionais, devemos reconhecer que os jovens concretos, heterogêneos, portadores de unidades geracionais com metas diferentes ou conflitantes entre si e que foram às ruas em junho de 2013, carregam forças de mudança societal, de disputa e/ou reorientação do espírito do tempo.
Bibliografia básica
ABRIC. C. J.-C. Pratiques Sociales et Représentations. Paris : PUF, 2001.
MANNHEIM, K. “ O problema sociológico das gerações.” II Sociologia do conhecimento. Porto: Rés. Pp. 115-174.exto: Mannheim (geracionista criador da teoria das gerações)
MENDONÇA, R. S. “Movimentos sociais como acontecimentos: linguagem e espaço público. Lua Nova, nº 72. São Paulo, 2007.
MOSCOVICI, S. Representações sociais – investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2004.
PERALVA, A. “O jovem como modelo cultural.” Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 1997 Nº 5 Set/Out/Nov/Dez Nº 6, pp. 15-24.
SENNET, R. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record. 2006.

WELLER, W. “A atualidade do conceito de gerações de Karl Mannheim: perspectivas para a análise das relações entre educação e trabalho. XXIX Encontro Anual da ANPOCS - GT Educação e Sociedade: Educação, Identidades, Hierarquias. Caxambu, 25 a 29 de outubro de 2005. Acessível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922010000200004

1Este texto é uma versão reduzida de um paper para uma mesa-redonda, a ser publicado nos anais do III SECIRI (III Seminário de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas), ocorrida no dia 11 de novembro de 2013 na UFS ( Universidade Federal de Sergipe)­

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