terça-feira, 16 de outubro de 2007

Lakmé


O poster original de Lakmé, de 1883


Um dia desses, Jonatas me disse que incluiria outro post sobre o proto-romantismo e, secretamente, nutri grandes esperanças que ele desistisse desse tal de Caspar David Friedrich para ilustrar o novo post. Tentei, de diversas maneiras, desviar sua atenção para a influência de Schiller na música: emprestei a nona de Beethoven, falei dos lieder de Schubert, tudo para ver se ele largava o tal do Caspar e ilustrava a estética romântica por outros meios, quiçá mais sublimes.

Resolvi radicalizar. Abandonei de vez a terra (e a língua) da filosofia e fui atrás de uma representação do romantismo desenvolvida no centro do Grande Império Britânico: mocinhas chinesas de olhinhos azuis (!) repuxados, sentadas em torno de um lago embrumado, afagando cãezinhos pequineses deitados nas dobras de seus vestidinhos de tafetá... Enfim, a promessa de redenção dos povos conquistados que, finalmente, sairão das trevas da ignorância e se unirão à Humanidade, com H maiúsculo. Mais kantiano, impossível! (Quanto a Schiller, essa eu deixo para Jonatas responder).

Mas e a figura? Não achei. Mas achei melhor! Um trecho da ópera Lakmé, o famoso Dueto das Flores (Vien, Mallika), do compositor romântico Leo Delibes (1836- 1891). E olha que coisa mais Iluminista: Orientalismo no melhor estilo Edward Said. O cenário é um jardim indiano, freqüentado por fiéis hindus, então proibidos de praticar sua religião livremente após a invasão britânica. Lakmé é a filha de um importante sacerdote brâmane que, para resumir uma longa história, se apaixona por um soldado britânico que invade o jardim. O pai de Lakmé fere o soldado e Lakmé o leva para um recanto afastado e cuida dele. Quando fica bom, um companheiro do exército de sua majestade aparece e o lembra de seus deveres para com o regimento e com o império. Lakmé nota a mudança que esta aparição tem sobre o seu amado e, ao perceber que o perdeu irremediavelmente para a rainha Vitória, come uma folha venenosa e morre a fim de preservar sua honra.

Desconforto em relação à cultura da razão e do controle? Ai, ai. Mas, falando sério, que Delibes dá de mil nesse tal de Caspar, isso dá! Ouve aí...
Cynthia Hamlin

3 comentários:

Le Cazzo disse...

Mas eu gostcho!

Jonatas

Le Cazzo disse...

Ha ha! Tá certo! Neste caso, aguardo ansiosamente pela próxima reprodução do Caspar. E também por uma reflexão sobre esta relação entre Schiller e alguns românticos mais iluministas. A propósito, você poderia elaborar mais detalhadamente a relação romantismo/modernismo/anti-iluminismo/anti-modernidade, independentemente de Schiller?

Cynthia

Le Cazzo disse...

Jonfer,

Já que você anda cada vez mais enfronhado no romantismo e seus duendes, bruxas, elfos, fadas e pixies de todos os tipos, uma outra referência de negação da razão: "Where is my mind?" do The Pixies. Com a certeza de que você vai odiar, só para encher sua paciência....

Cynthia