terça-feira, 18 de maio de 2010

Modernismo Brasileiro e Ciências Sociais



Fernando da Mota Lima

Para César e Brenno, por tudo que só a amizade convivida traduz.

Como há ainda quem confunda o modernismo brasileiro com um movimento restrito ao campo das artes e da literatura, talvez convenha começar este artigo ressaltando seu caráter de movimento cultural muito mais amplo. Antes de tudo, por ser esse o modo adequado de fazer justiça à sua real amplitude; em seguida, porque meu propósito, já explícito no título deste artigo, é descrever algumas das suas conexões mais fortes com o desenvolvimento das ciências sociais no Brasil. Antonio Candido frisa num dos seus ensaios mais citados, “Literatura e Cultura de 1900 a 1945”, que a literatura ocupou posição central no desenvolvimento da nossa vida espiritual. À diferença de outros países, onde a filosofia e mesmo as ciências sociais desempenharam papel similar, aqui a literatura incorporou à sua expressão propriamente estética um caráter de função socialmente interessada à margem da qual seria impossível compreender o sentido abrangente e sociologicamente relevante da obra de autores como José de Alencar, Machado de Assis, Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Mário de Andrade, Gilberto Freyre... Suponho que duas razões óbvias desse fenômeno radicam na ausência de uma sólida tradição universitária e no consequente desenvolvimento tardio das ciências sociais. Privado de uma tradição rica e intelectualmente diferenciada, o escritor brasileiro sente-se investido de uma missão socialmente elástica inexistente nas culturas cujas instituições e processos de divisão do trabalho intelectual já estão consolidados. Este é um fato facilmente aferível na obra dos autores acima citados, assim como em muitos dos seus contemporâneos.


3 comentários:

Le Cazzo disse...

Fernando aceitou um convite de minha turma de Sociologia da Modernidade para falar, há duas semanas, sobre "modernismo e ciências sociais no Brasil". Falou-nos durante uma hora e meia, aproximadamente, e teve ainda fôlego para conversar conosco durante uns quarenta minutos. Multiplica agora a sua generosidade deixando-nos e aos leitores deste Cazzo este excelente texto. Obrigado, Fernando. Jonatas

Alfredo disse...

Don Fernando, agradeço a generosidade da dedicatória. Infelizmente a dinâmica intelectual brasileira não gerou suportes institucionais satisfatórios para dar conta de uma estudo de fôlego sobre a relação entre modernismo e ciências sociais. Não há mais - ou há muito pouco - diálogo entre sociologia e literatura. Se os ensaístas e escritores da época transitavam, com certa dose de ecletismo, entre terrenos tão variados, o mesmo não se pode dizer dos especialistas de hoje. Daí o desafio que é reconstituir o campo discursivo tão híbrido do ensaísmo brasileiro. Um abraço saudoso!

Marcelo disse...

Belo texto.